06/02/2018 – Revista Potência

Consumidor pode adotar a Tarifa Branca 

Desde o dia 1º de janeiro, parte dos consumidores brasileiros atendidos em baixa tensão pode aderir à chamada Tarifa Branca de energia. A medida cria a possibilidade de que os usuários que se enquadrem no regulamento venham a reduzir os gastos com esse insumo.

Neste primeiro momento a Tarifa Branca está disponível para consumidores com média mensal superior a 500 kWh. A partir do próximo ano também deverão ser atendidas unidades com consumo médio superior a 250 kWh/mês. Em 2020 o sistema aceitará a adesão independentemente do consumo. A Tarifa Branca não é aplicável aos consumidores residenciais de baixa renda nem àqueles que já se beneficiam dos descontos previstos em lei.

 

De acordo com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a Tarifa Branca indica a variação do valor da energia de acordo com o dia e o horário de consumo. Nos dias úteis, foram estipulados três valores: ponta, intermediário e fora de ponta – vale lembrar que esses períodos variam conforme a distribuidora. Assim, o consumidor que aderir à Tarifa Branca poderá pagar menos pela energia, se concentrar o uso nos períodos de menor demanda.

Caso não fique satisfeito com os resultados obtidos com a Tarifa Branca, o consumidor poderá retornar ao sistema convencional – desde que obedeça ao período de carência. Para saber se vale a pena ou não aderir à nova modalidade, os usuários precisam, primeiramente, identificar seu padrão de consumo. É importante fazer essa comparação antes, pois há casos em que a mudança pode não oferecer vantagens. Já para o país, o sucesso do sistema de Tarifa Branca tende a proporcionar uma melhor gestão da distribuição da energia.

Essas e outras questões relacionadas ao tema são abordadas nesta conversa com a especialista Juliana Rios, gerente da CAS Tecnologia, companhia dedicada ao desenvolvimento de soluções inteligentes para redes de água, energia e gás. Um infográfico feito pela CAS também traz outras informações complementares sobre o assunto.

 

Quais são os resultados conhecidos de experiências semelhantes à Tarifa Branca, aplicadas pelo mundo?

Alguns países como Canadá, Austrália, Itália, França e Reino Unido já possuem projetos parecidos. As experiências aplicadas pelo mundo, no segmento de baixa tensão, são relativamente recentes, ou seja, já deste século XXI, e os resultados são notados com poucas variações conforme a região, os postos horários e o modelo aplicado. É importante lembrar que a medição do consumo em diferentes postos horários pressupõe a utilização de medidores inteligentes. No Canadá, a província de Ontario foi a primeira região do mundo a utilizar medidores inteligentes para todos os consumidores residenciais com medição por posto horário, por padrão. Apesar do padrão inicial ser a tarifa por posto horário (equivalente à nossa tarifa branca), o consumidor pode optar pela mudança para a tarifa convencional, além de poder comprar de outro fornecedor concorrente. O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, está se preparando para atender 11 milhões de consumidores residenciais utilizando energia com tarifa diferenciada por posto horário, em 2019. Na Itália, desde 2010 a aplicação de tarifa por posto horário é obrigatória. É considerado horário de ponta o período entre 8 e 19 horas nos dias úteis, sendo fora ponta todos os demais dias e horários. Os consumidores devem informar a demanda a ser contratada, de acordo com sua previsão de consumo mensal. Caso necessitem energia acima do contratado previamente, o volume adicional custará muito mais caro e, além disso, há um limite que não poderá ser ultrapassado, ocasionando o corte do consumidor. Na Austrália há vários fatores que podem determinar a tarifa a ser aplicada. A tarifa pode ser fixa e variar conforme o volume consumido, que pode ser sempre o mesmo ou variar de um mês para o outro, e tornar-se progressiva. Mais recentemente está sendo introduzido um novo fator que leva em conta o volume de energia demandada de uma única vez, pois considera-se que causar um ‘stress’ impacta o sistema. No Reino Unido, por exemplo, o horário fora ponta (com tarifa mais barata) ocorre entre 23 e 6 horas. Já o horário de ponta (tarifa mais cara) ocorre entre 16 e 19 horas, e o valor pode chegar a até cinco vezes o valor fora ponta. Esses dados são recentes, de janeiro de 2017, e foram divulgados juntamente com uma nova possibilidade de aquisição, por parte dos consumidores, de um gerador fotovoltaico (painel solar) e de obter um desconto de 20% em um conjunto de baterias que armazenam energia adquirida durante o horário fora ponta para consumo em horário de ponta. Ainda não há resultados divulgados e as empresas do setor têm opiniões e preocupações diversas. Na França, onde as tarifas são inferiores aos valores médios praticados na Europa, são praticados dois tipos de tarifas. A tarifa básica é a mais recomendada para os consumidores que utilizam sistema de aquecimento de ambiente e da água com alguma fonte de energia que não seja a elétrica. Por outro lado, as concessionárias recomendam a opção pela tarifa horária, com demanda contratada, para consumidores que utilizam sistema de aquecimento elétrico com reservatório de água quente, pois são mais utilizados nos horários fora de ponta. Além de variações nos valores das tarifas conforme o posto horário, há também variações conforme a região e o período do ano.

 

Em uma escala maior, que ganhos a aplicação da Tarifa Branca poderá proporcionar para o país?

A adoção da Tarifa Branca em grande escala visa, a longo prazo, deslocar boa parte do consumo do Grupo B – clientes residenciais, rurais e comércios na rede de baixa tensão – para fora da faixa horária de maior demanda de energia, chamado horário de ponta. O resultado deve ser uma demanda de energia mais uniforme ao longo do dia, de forma que a infraestrutura da rede de distribuição não precise ser superdimensionada apenas para suportar a demanda dos horários de ponta atuais.

 

Então a utilização da Tarifa Branca vai corrigir o problema da ociosidade do sistema fora dos horários de pico?

A Tarifa Branca pode contribuir, porém, somente ela não será suficiente para a melhor distribuição do uso de recursos da rede. Se a tecnologia disponível para essa aplicação for estendida para formar Redes Inteligentes, essa sim deverá trazer resultados para melhor eficiência energética. As tecnologias de Redes Inteligentes permitirão conhecer os diferentes perfis de consumo e, a partir daí, evoluir para novos programas que implementem a gestão pelo lado da demanda.

 

Pode haver casos em que não é interessante para o consumidor aderir à Tarifa Branca? Em quais situações essa adesão não é recomendada?

Sim. O consumidor que tiver seu perfil de consumo mais concentrado no horário de ponta ou no intermediário não deve aderir à Tarifa Branca, a menos que consiga deslocar esse consumo para o posto horário fora de ponta.

 

Como o consumidor pode aprender a identificar seu próprio perfil de consumo, de forma que possa utilizar adequadamente o sistema de Tarifa Branca? A quem ele pode pedir ajuda?

Uma forma é observar em que horários são utilizados chuveiro elétrico, ar-condicionado, aquecedor, forno elétrico, micro-ondas, ferro de passar roupa e secador de cabelos na sua instalação. Esses, em geral, são os eletrodomésticos que mais consomem energia. Para optar pela Tarifa Branca o consumidor pode adotar hábitos que priorizem o uso desses itens nos horários fora de ponta. A concessionária não efetua a medição por postos horários para a tarifa convencional, então ela não conseguirá auxiliar o consumidor nessa decisão. O consumidor pode experimentar a Tarifa Branca por trinta dias. Se após a primeira fatura da adesão ele se arrepender, ele pode solicitar o retorno para a tarifa convencional.

 

Mesmo se houver uma fraca adesão do consumidor, a aplicação da Tarifa Branca fará alguma diferença para a otimização do consumo de eletricidade no país?

De fato, com uma baixa adesão a diferença será mínima, e os investimentos em infraestrutura de rede continuarão sendo necessários para atender a demanda concentrada nos horários de ponta. Mas acreditamos que a médio e longo prazo, com aumento do conhecimento dos clientes sobre a Tarifa Branca, e maior consciência sobre o perfil de consumo, a adesão tende a aumentar.

 

Qual a melhor forma de convencer os consumidores a aderirem à Tarifa Branca e mudarem efetivamente seus hábitos?

A melhor forma de convencer os consumidores, em primeiro lugar, são os sinais de preço, ou seja, a economia que pode ser percebida diretamente no bolso. Assim, é muito importante que os consumidores estejam bem informados sobre a diferença entre a Tarifa Branca e a tarifa convencional. A tarifa convencional aplica uma taxa única por kWh consumido, independentemente do horário de consumo. Na Tarifa Branca o preço da energia nos dias úteis será dividido em três postos horários: ponta, intermediário e fora de ponta. O horário de ponta, com a energia mais cara, terá duração de três horas, geralmente na parte da noite. A taxa intermediária será uma hora antes e uma hora depois do horário de ponta. Nos demais horários, nos feriados nacionais e nos fins de semana, o valor é sempre fora de ponta. As faixas horárias variam de acordo com a distribuidora que atende a região.

 

Na sua opinião, para que o sistema possa ser considerado exitoso, será necessária a adesão à Tarifa Branca de qual parcela dos consumidores?

Difícil mensurar em números a parcela necessária de consumidores. Isso porque há muitos perfis de consumo diferentes na baixa tensão, em diferentes configurações de rede e em diferentes áreas de concessão das distribuidoras no Brasil. Mas é possível supor que dependerá da maior adesão da parcela de consumidores que têm maior consumo de energia, como unidades consumidoras com equipamentos condicionadores de ambiente, fornos elétricos, motores, etc.

 

Que tipos de soluções a CAS oferece ao mercado nessa área?

A CAS aplica tecnologia, ciência e engenharia no desenvolvimento de soluções inteligentes para concessionárias de energia, água e gás. Com a abordagem ponta-a-ponta, atuamos como integradora para Redes Inteligentes, desde o hardware de coleta de dados em campo – a telemetria – até a gestão dos dados de medição, um analítico sobre os dados e a entrega de informações para os sistemas comerciais da concessionária. Com o advento da Tarifa Branca, a CAS está oferecendo às concessionárias um novo módulo da Plataforma Hemera, o Residencial Smart, para a gestão dos dados dos medidores inteligentes. O Hemera Residencial Smart permitirá à distribuidora automatizar o processo de faturamento com Tarifa Branca, tarifa convencional e com mini ou micro geração, reduzir custos operacionais de campo, disponibilizar informações de qualidade de tensão, realizar o balanço energético e combater perdas.

 

Essas soluções são desenvolvidas no Brasil? Elas são configuradas especialmente para o mercado nacional?

Sim. Toda tecnologia desenvolvida pela CAS é 100% nacional. O mercado nacional é nosso principal foco, cujas particularidades nos proporcionam experiências de alta complexidade. No entanto, nossos produtos também são concebidos para serem aplicáveis mundo afora.

 

Tem havido aumento da procura por esses tipos de soluções? Com a Tarifa Branca a tendência é de que haja maior procura por essas soluções ou as concessionárias já se prepararam antecipadamente?

O interesse por Redes Inteligentes vem crescendo de forma gradual. Todas as concessionárias de energia começaram o investimento em nossa tecnologia para aplicação em clientes do topo da pirâmide de consumo, que contempla seus grandes clientes, o Grupo A. Atualmente elas iniciaram a aplicação desta tecnologia para uma fração de clientes da base da pirâmide, onde estão os consumidores residenciais, o Grupo B. Dependendo da adesão, a Tarifa Branca pode, sim, impulsionar ainda mais o uso das tecnologias de Redes Inteligentes para toda a rede de distribuição.