31/07/2024 – Revista Infor Channel

Fonte solar ganha expressão na matriz energética do Brasil.

Foi-se o tempo em que a utilização da fonte solar era tão-somente uma promessa distante, restrita a nichos pontuais. Hoje, em total contraste, ela adquiriu enorme relevância na constituição da matriz energética brasileira, elevando continuamente a potência instalada, captando investimentos volumosos, multiplicando empregos e, além do mais, ganhando capilaridade em todo o território nacional.
Cada vez mais, a cadeia produtiva que se construiu em função desta fonte renovável se diversifica, em quantidade e qualidade, registrando forte movimentação de empresas atuantes – grandes usinas, fabricantes, distribuidores, integradores e instaladores – além de abraçar tecnologias de ponta para modernizar e profissionalizar as operações e a gestão do setor.

Sobram números para atestar a prosperidade alcançada até o presente.

Em maio, a fonte solar já havia ultrapassado a marca de 43 gigawatts (GW) de potência instalada, tendo acumulado mais de R$ 202 bilhões em investimentos, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica – Absolar.

Com isso, o segmento já gerou mais de 1,3 milhão de empregos verdes no País.

Somente de janeiro a maio deste ano, ainda conforme a Absolar, o setor adicionou 6 GW à matriz elétrica nacional, somando-se os resultados das grandes usinas solares (Geração Centralizada) aos dos sistemas de geração própria de pequeno e médio portes (Geração Distribuída).
Protagonismo do Brasil Em virtude destes progressos, a participação da fonte solar já equivale a 18,2% da matriz elétrica brasileira, ficando em segundo lugar, o que amplia de forma significativa o protagonismo do País na transição energética global, numa conjuntura em que a temática da sustentabilidade adquiriu centralidade nas agendas das nações.

Por sinal, já em 2023 o Brasil havia assumido, de forma inédita, a sexta colocação na classificação mundial dos países com maior potência solar acumulada, galgando duas posições e encerrando o ano com 37,4 gigawatts (GW), conforme levantamento da Agência Internacional de Energias Renováveis – Irena. Em desempenho, ficou atrás apenas da China (609,3 GW), Estados Unidos (137,7 GW), Japão (87,1GW), Alemanha (81,7 GW) e Índia (72,7 GW). Foi neste quadro que a Irena situou o Brasil como o quarto maior mercado de energia solar no mundo.

Com esses ventos mais que favoráveis, a alternativa fotovoltaica, já presente em todos os Estados e em mais de 5.500 municípios do País, está beneficiando o conjunto da população e as mais distintas verticais da Economia, aí incluindo, é claro, a de Tecnologia da Informação – TI, voraz consumidora de eletricidade.

Fazendo um balanço das conquistas alcançadas, Christian Cecchini, especialista TécnicoRegulatório da Absolar, nota que o consumidor brasileiro conta agora com a possibilidade de obter energia elétrica de maneira sustentável, democrática e barata. “Esse fato ajuda o País na geração de empregos em todos os elos das cadeias produtivas e de serviços e na arrecadação destinada aos cofres públicos, amealhando receitas que podem ser investidas na melhoria das condições da população”, assinala.

Aumento da competitividade O manuseio dos recursos fotovoltaicos apoia o Brasil no fornecimento de produtos e serviços cada vez mais competitivos, além de contribuir para a balança comercial na exportação desses itens. “Fora isso, ainda ajuda a evitar a emissão de gases de efeito estufa na geração”, complementa o entrevistado.

A presença crescente desta fonte no cotidiano da população se manifesta no levantamento da Absolar a respeito da distribuição. A geração própria recentemente ultrapassou a marca de 28 GW de potência instalada em residências, estabelecimentos comerciais, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos, perfazendo mais de 3,5 milhões de unidades consumidoras. Adicionalmente, o País abriga mais de 2,5 milhões de sistemas solares fotovoltaicos instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos.

A propósito desta expansão, Rômulo Horta, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Huawei Digital Power, enumera uma série de fatores propícios que, a seu ver, acabaram por impulsionar as atividades. Recentemente, recapitula, surgiram regulamentações importantes como isenção de ICMS, desconto no IPTU em algumas cidades, inclusão desta fonte limpa no programa Minha Casa, Minha Vida, isenção de imposto de importação, além de garantias para a proteção dos equipamentos.

“Hoje, clientes e consumidores podem contar com soluções seguras, capazes de promover uma gestão mais inteligente da energia, diminuindo gastos desnecessários e garantindo a entrega”, salienta.

Economia de escala Ao também examinar a evolução desta indústria, Marcio Osli, diretor do Segmento de Energia Solar da Intelbras, observa que, em um primeiro momento, os avanços tecnológicos, juntamente com as economias de escala e uma cadeia de suprimentos mais eficiente, contribuíram para o recuo nos preços: “Esse cenário tornou a energia solar cada vez mais competitiva em comparação com outras fontes, incentivando sua adoção em diversas áreas”. No entanto, ressalva, embora os custos tenham diminuído, “o investimento inicial ainda é relativamente alto para muitos consumidores e empresas”.

Para facilitar o acesso ao crédito, bancos e instituições financeiras brasileiras já têm oferecido linhas específicas para estimular a instalação de sistemas solares, tanto para pequenos consumidores quanto para grandes projetos, o que constitui um avanço significativo.
A Intelbras, por exemplo, incluiu um de seus módulos fotovoltaicos no código Finame, permitindo o financiamento da solução por meio de recursos ofertados pelo BNDES ou pelo Banco do Brasil. Com isso, é possível realizar pagamentos com prazos maiores, taxa de juros reduzida e parcelamentos mais vantajosos para os clientes.

Por sua vez, Danilo Ribera, gerente de Produtos da CAS Tecnologia, aponta os principais vetores que aqueceram a demanda.
Tecnicamente falando, houve aumento da eficiência dos painéis solares e da qualidade dos inversores.

Pelo lado regulatório, diz, o governo brasileiro tem proporcionado incentivos fiscais e legais para promover o uso da energia solar, facilitando a adesão de pessoas jurídicas e físicas.

Por fim, houve um incremento importante também na capacidade instalada da indústria nacional, favorecendo ao mesmo tempo a abertura de postos de trabalho.

Diversificação da matriz “No geral, esses passos estão contribuindo para a diversificação da matriz energética brasileira, reduzindo a dependência de fontes não renováveis e trazendo benefícios econômicos e ambientais para empresas, consumidores e para a economia como um todo”, sintetiza o gerente da CAS Tecnologia.

O dado real é que a geração própria solar em pequenos pontos – Geração Distribuída, que abrange a minigeração e a microgeração – vem efetivamente ajudando a reduzir as contas de luz. Estudo da consultoria especializada Volt Robotics estima que a economia líquida nos gastos de todos os brasileiros com energia será de mais de R$ 84,9 bilhões até 2031.

Com isso, Osli, da Intelbras, citando dados da Absolar e da Aneel, reforça que o setor residencial é, disparado, o maior consumidor de energia solar e, também, o maior gerador, especialmente com o incremento da Geração Distribuída. Em segundo lugar, emerge o comércio, incluindo lojas, supermercados, shoppings e escritórios.

A procura por parte do setor agrícola também tem decolado. Muitas vezes, áreas afastadas ou sem a infraestrutura adequada encontram nesta fonte verde uma solução eficiente e sustentável. Nesta vertical, ela tem sido amplamente adotada para alimentar bombas de irrigação, estufas, sistemas de aquecimento e refrigeração, além de outros equipamentos essenciais para a agricultura e de periféricos como câmeras de monitoramento.

“Em localidades rurais onde o acesso à rede elétrica convencional é limitado ou inexistente, os sistemas solares off grid são vitais para garantir a viabilidade das operações agrícolas, proporcionando uma fonte estável e previsível de eletricidade”, analisa Osli. Na realidade, “cada um dos principais setores que geram e consomem energia solar encontram nela soluções específicas para superar seus desafios energéticos”.

Entraves No entanto, progressos à parte, os especialistas entrevistados apontam alguns entraves a uma expansão maior das atividades. Cecchini, da Absolar, pondera: “Os custos dos sistemas fotovoltaicos estão cada vez menores, mas para o consumidor poder aproveitar o melhor modelo de negócio para a sua realidade, não deve haver barreiras artificias como reservas de mercado ou a apresentação de inviabilidades técnicas onde elas não existem”.

Além disso, critica ele, o País continua a subsidiar as fontes fósseis, na contramão da transição energética indispensável para que sejam cumpridas as metas estabelecidas de redução de emissões dos gases de efeito-estufa.

Como pontos de atenção adicionais, Cecchini cita a falta de linhas de transmissão para o escoamento da energia na Geração Centralizada; e os problemas de inversão de fluxo na Geração Distribuída. “Outra questão é que o mercado ainda não pode ser 100% livre, não dando ao consumidor de baixa tensão o poder de escolher de qual fonte comprar sua energia”, declara o especialista da Absolar.

A escassez de profissionais qualificados é outro percalço, requerendo a instituição de programas de educação e capacitação para técnicos e engenheiros, tornando-os aptos a projetar, instalar e manter os sistemas solares.

“A Intelbras oferece diversos cursos presenciais ou via digitais, voltados não apenas para clientes, colaboradores e parceiros, mas também para a população em geral”, revela Osli.

Os entrevistados ressaltam o papel crítico das campanhas de educação e conscientização sobre os benefícios econômicos e ambientais da alternativa fotovoltaica, ajudando a popularizar a tecnologia e aumentar a demanda.

Na realidade, a falta de conhecimento afeta até mesmo empresários e gestores públicos, requerendo, portanto, uma efetiva mudança cultural.

 

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